Teatro: Profissão ou Passatempo?
Por Stefanie Sterci
Recentemente, em março, o espetáculo Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos, dirigido por Claudio Botelho e Charles Möeller, foi vaiado e cancelado após comentário político de Botelho em Belo Horizonte, referindo-se aos ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff. A atração contava a história de uma trupe de teatro com as canções do músico, escritor e dramaturgo brasileiro homônimo, grande autor por trás da peça Roda Viva, escrita em 1967 e estreada no ano seguinte com mensagem de resistência contra a ditatura militar. Apesar da manifestação da diretoria da peça, que comparou os gritos da plateia de “não vai ter golpe”, com o ocorrido de invasão de pessoas ligadas ao Comando de Caça aos Comunistas e agressão ao elenco de Roda Viva, Chico Buarque manifestou-se por meio da assessoria de imprensa, declarando que uso de suas músicas para este fim estaria proibido.
A palavra teatro é derivada do grego theaomai, que significa olhar com atenção, perceber e contemplar, e explica esta forma de arte cênica que foi criada no século VI a.C, na Grécia, durante homenagens realizadas ao deus do vinho, Dionísio. A nomeada tragédia grega é o primeiro de todos os gêneros teatrais e um dos mais apresentados na Antiga Grécia, representada por dramaturgos como Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, ainda nos meados de 400-500 a.c. Os júris do estilo eram as pessoas da aristocracia, e em suas apresentações, as grandes marcas eram as de mitos, realidades, heróis legendários, deus e semi-deuses, e finais que não terminavam com ‘viveram felizes para sempre’. Composto por aqueles que possuíam responsabilidade civil, a arte abria espaço para a política e educação. As apresentações eram de cunho popular e ao ar livre.
Chegou ao Brasil por volta do século XVI, como instrumento de catequese dos Jesuítas e forma de evangelização dos índios e forma de promover paz. Em sua maioria, o gênero predominante era o auto e o grande destaque por trás deste desenvolvimento é o Padre José de Anchieta. Apenas no século XVII surgiram as casas de espetáculo, com comédias e tragicomédias ainda com influência francesa e italiana. O primeiro elenco dramático brasileiro teve criação em 1833, transição influenciada por questões políticas como a Independência (1822) e abdicação de Dom Pedro I (1833). A partir daí novos gêneros teatrais, nacionalidade, o surgimento da primeira Escola de Arte Dramática e da Academia Brasileira de Teatro, anos depois em 1931.
Nome: Mariana Guazzelli
Idade: 30 anos
Profissão: Comerciante
Herança de família, o avô de Mariana era ator e a paixão pelo teatro sempre correu nas veias da andreense. Aos 12 anos, iniciou as aulas na Fundação das Artes em São Caetano e aprofundou-se em aulas de dança e de canto. Em 2007, ocorreu o evento considerado pela entrevistada como a melhor experiência de sua vida, quando participou do musical Cats, na Austrália. Porém, depois disso, a paixão adormeceu. “A idade veio chegando e vi que meu sonho de ser atriz tinha sido deixado de lado, pois há 10 anos estava me dedicando ao comércio do meu pai”, conta. Motivada a voltar a sonhar, retomou o curso profissionalizante de teatro na Escola de Atores Wolf Maya, em São Paulo. Neste ano, fez oficina especializada em Nelson Rodrigues e além disso, criou canal no YouTube, onde fala sobre assuntos relevantes ao mundo da arquitetura, arte e meio-ambiente. “O teatro para mim não é passatempo, é vida. É profissão. Levo muito a sério”, complementa Mariana, que ainda ressalta que a vida financeira do ator não é nada fácil e por isso, dedica-se também ao trabalho de comerciante. Apesar da vida dupla, seu grande sonho atualmente é estar nos palcos interpretando a personagem Blache Dubois, da peça "Um bonde chamado desejo" de Tennessee Williams.
Nome: Julia Soares
Idade: 20 anos
Profissão: Atriz
Apesar da oportunidade ter batido a porta somente aos 17 anos, a vontade conhecer o teatro sempre fez parte de seus sonhos. “No início só pretendia fazer o preparatório e era passatempo, mas tinha aquele pequeno desejo de ir para a televisão. Depois que conheci me apaixonei e minha visão mudou completamente”, afirmou Júlia, que não troca mais o teatro por nada e pretende seguir carreira na área, já que não se imagina mais fazendo outra coisa. Entre seus planos, sonha em fazer faculdade de licenciatura para poder dar aulas, além de atuar, porque, pretende fazer outras pessoas aquilo que seus professores fizeram por ela, abrir seus olhos, sua mente e lhe dar uma nova forma de enxergar o mundo. “O teatro significa o mundo para mim. É a única coisa que faz com que eu me sinta parte de um todo, com que eu me sinta alguém capaz de tocar as pessoas de alguma forma”, expressou Julia, que disse ainda amar a sensação de liberdade e de responsabilidade de tocar alguém em seus sentimentos.
Nome: Juliana Cirilo
Profissão: Atriz
Entre idas e vindas, Juliana fez o curso profissional no Teatro Escola Macunaíma por seis meses, parou, e voltou a estudar neste ano no ETA (Estúdio de Treinamento Artístico). O desejo de viver para esta arte foi despertado por meio da admiração por novelas, filmes e séries, além das peças de teatro, que Juliana sempre frequentava, mesmo criança. “Sempre prestei bastante atenção nas cenas e ver erros de gravação. Conheci atrizes, diretores e o meu amor só aumentou”, comentou. Apesar de planejar cursar faculdade de cinema para aprender ainda mais sobre os bastidores e as cenas, Juliana ressalta aspecto importante e mostra que nem tudo são flores, nem mesmo dentro desta arte. “Teatro é uma coisa maravilhosa e prazerosa, porém, infelizmente, no nosso país poucas pessoas tem o hábito de ir ver uma peça ou espetáculo de dança, sendo assim, trabalhar apenas com teatro não rola”, explicou, ressaltando os planos que trabalhar também com a televisão, que também é um ramo complicado, mas grandioso.
Nome: Ayla Lucciola
Idade: 21
Profissão: Fotógrafa e atriz
Filha de músico, rodeada por arte, possui o dom de desenhar, fotografar, escrever, e um dia se perguntou: “e atuar? Por que não? ”, foi aí que aos 18 anos, conheceu o teatro. Começou a cursar o Teatro Escola Macunaíma e ao querer explorar um novo lado da arte, inscreveu-se para o processo seletivo da Escola Livre de Teatro de Santo André, centro formação, pesquisa e experimentação das linguagens teatrais. “Eu me encontrei onde tem política, estudo, onde é diferenciado”, destacou. Em um passo de ousadia, seguiu adiante e tornou-se co-fundadora da Cia. Oritimbó, que atualmente, está em período de construção de apresentações, entre elas, uma de sua autoria que retrata a relação do eu no universo, nomeada Hematoma Alegórico de um Grão de Ódio na Terra do Cinza.
Nome: Dartagnan Freire
Idade: 27
Profissão: Publicitário
Suas brincadeiras na infância resumiam-se em imitar pessoas e encenar na frente do espelho, e aos 14 anos, surgiu o seu primeiro envolvimento com o teatro. Apesar de ser apaixonado pela arte, nunca pensou no lado da profissionalização, mas optou por cursas as aulas na escola, durante o ensino fundamental e médio, e deu sequência nas grades complementares da faculdade. No curso de Publicidade e Propaganda aprendeu técnicas como direção de arte, cenografia e iluminação, e apesar de ser atualmente apenas um hobbie, levou o conhecimento para dentro de sua igreja, onde participa de peças com mensagens voltadas a fé, amor e esperança. “O teatro representa para mim uma liberdade sem limites, além da possibilidade de tocar pessoas. O espectador pode até esquecer os atores, mas da peça e da mensagem, ele não esquece”, explica.
Nome: Alanis Guillen
Idade: 18
Profissão: Atriz
A beleza de Alanis é marcante, mas a sua experiência com a arte a tornam ainda mais interessante. Aos três anos, visitou sua primeira agência de modelos, e começou a fazer propagandas, fotos e desfiles. Foi só em 2015, que começou a estudar teatro na Escola Nacional de Santo André, e resolveu apostar além, com curso de interpretação para TV na Escola de Atores Wolf Maya, já finalizado. Atualmente, faz curso técnico em arte dramática, integra o grupo de estudos TAPA, onde é estudado a linguagem de diferentes formas de teatro, faz aulas particulares de técnica vocal e faz estágio no Grupo Estação. “Teatro para mim não é só uma profissão, teatro é descobrir essências, é sentir, mostrar, intervir, é misturar diversas artes em uma só, é ser humano, e acredito ser necessário”, contou. Sobre o futuro, planeja investir mais em conhecimento, corpo, voz, escrita e quem sabe, cursar uma faculdade que lhe proponha mais de tudo isso.
Nome: Chrystian Roque
Idade: 21
Profissão: Assistente de Produção
Fã da literatura, foi esta a raiz que despertou em Chrystian a euforia pelo teatro. Sem nenhum contato formal com professores e aulas, a sua escola começou aos 15 anos, com o grupo de leitura dramática da época do ensino médio. O que parece incomum para muitos jovens desta idade, era para ele uma grande forma de expressão física, mental e sentimental. “Nunca foi um passatempo, tampouco, uma profissão. Era uma coisa natural um lance atávico pra mim”, conta o assistente de produção, que posteriormente concluiu o curso na Escola de Teatro Macunaíma e carrega em seu curriculum mais de dez especializações na área. Sobre o futuro, comenta que apesar de não gostar de planejar, o desejo de descobrir cada vez mais sobre o teatro e sobre ser ator, são prioridades.
No empreendedorismo e no palco
Para a vida toda
Nas Telinhas
Criatividade e Independência
Por Amor
Moda e Arte
Palavras e emoções





Nome: Isabela Moreira
Idade: 18
Profissão: Estudante
Menos técnica e muito mais amor. Isabela nunca fez aulas e o que aprendeu foi participando de oficinas teatrais, mas o interesse pela arte desde os sete anos de idade, trouxeram a evolução de minutos para horas em cima do palco. “Teatro para mim não é profissão, eu não colocaria também como passatempo, mas, sim como oportunidades de poder mostrar um outro lado da realidade cativando as pessoas na mensagem que se deseja passar”, explicou. Neste caminho, Isabela conheceu o clown, que imediatamente ganhou seu coração. O nariz de palhaço e o sorriso no rosto, segundo ela, levam a tristeza embora e deixam mensagens marcadas no coração para sempre. “Seja nas ruas, nas praças, nos hospitais, a arte não para e a gente se sente mais leve quando cumpre essa missão”, finaliza Isabela, que é universitária, envolvida em humanização nos hospitais, escolas, orfanatos e apaixonada pela vida.
Alegria e Nariz Vermelho
Os consagrados diretores Claudio Botelho e Carlos Moeller criaram uma peça, baseada na obra de Chico Buarque de Holanda. Com personagens, enredo e um texto formado pelas canções de Chico, surgiu "Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos", que conta a história de uma companhia de teatro comandada por um casal de artistas. Agora, o eterno caso de amor dos criadores com a obra de Chico se encontra sedimentado e eternizado em um álbum duplo, gravado em estúdio e totalmente fiel ao espetáculo.
Assista abaixo!

Um novo teatro chamou atenção durante o Estado Novo, que foi o marco da chamada modernidade com a apresentação do Vestido de Noiva, em 1943, de Nelson Rodrigues, onde um grupo formado por profissionais liberais e por personalidades da sociedade mobilizaram-se. Esta modernização continuou com a migração do eixo do Rio de Janeiro para São Paulo e a criação do Teatro Brasileiro de Comédia, movimentação que foi concretizada com a criação do Teatro Arena, em 1953, que juntou-se ao grupo de estudantes da USP e gerou o Teatro Oficina, afim de estudar a formação cultural do país e investigar a cultura capitalista. O grupo sofreu grande repressão na Ditadura militar com atores perseguidos, desaparecidos e espaços fechados após tentativa de expressão e censura.


