
É possível ser um escritor no Brasil?
Por Vitor Lacerda
Segundo pesquisa feita pelo IBOPE, encomendada pelo Instituto Pró-Livro, o número de leitores no país subiu 6% nos últimos 5 anos. O estudo analisou o período de três meses antecedentes à entrevista, e o resultado mostrou que o total de livros lidos foi de 2,54 obras, deste total o brasileiro conseguiu finalizar apenas um. Ainda de acordo com o levantamento, 30% das pessoas nunca compraram um livro. O Brasil tem cerca de 104,7 milhões de leitores, ou seja, 56% da população.
Outro estudo realizado pelo IBOPE, dessa vez em parceria com Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM), fornece dados interessantes para análise, por exemplo sobre o tempo dedicado à internet.

Os dados da pesquisa revelam que o brasileiro gasta cinco horas do seu dia navegando na internet, sendo que as redes sociais respondem por 92% dos acessos, as principais são Facebook e Whatsapp, correspondendo a mais de 83%. Esta informação traz consigo uma reflexão, já que nessas redes as pessoas estão lendo e escrevendo o tempo todo. Então o problema não é a leitura em si, mas a plataforma em que ela se encontra, ou a forma com que ela é apresentada.
Nas duas pesquisas realizadas foi perguntado o porquê das pessoas não lerem mais, e a grande maioria (67%) disse que a razão é "falta de incentivo" ou "falta de tempo", apenas 28% disseram não gostar de ler.
Afinal, por que é que o brasileiro não se interessa tanto pelos livros? Será mesmo falta de tempo?
Ler é aprendizado e o tempo de escolaridade é a condição ao desenvolvimento do gosto pela leitura. A escola apesar de toda interatividade apresentada pelos gadgets, segue como lugar indiscutível para ampliar o interesse pela leitura. Essa responsabilidade passa também pelos professores, profissionais que são profundamente afetados pela formação insuficiente, baixa auto-estima e salários baixos.
Por último, são necessários ambientes que favoreçam o gosto pela leitura. Bibliotecas interativas, por exemplo, são uma ótima iniciativa. Na falta destes ambientes fornecidos pelas autoridades, cabe ao público apaixonado pela leitura usar a criatividade com bibliotecas improvisadas em pontos de ônibus, garagens, em fundos de quintal, em cantos de sala de aula, abertas a qualquer um e receptivas a doações, passos indispensáveis para aproximar a leitura do povo.
Sabendo de tudo isso, como superar os obstáculos da nossa cultura e ser um escritor?
O desafio de se tornar um escritor em um país como o Brasil, onde quase não se vê incentivo à leitura é uma tarefa difícil, mas há esperança para quem está iniciando na área e sonha em conquistar espaço e ser reconhecido.
Ryoki Inoue, formado médico pela USP, especialista em Cirurgia do Tórax, deixou a medicina em 1986 para se tornar escritor. Atualmente figura no Guinness Book, como o homem que mais escreveu e publicou livros em todo o planeta. Rioki acredita que para ser escritor em um país inculto como o Brasil em primeiro lugar é necessário sacrifício e determinação.
"Do alto de meus 1.100 livros tenho um conselho a dar para aqueles que possuem a ambição de tornar-se um escritor profissional: escreva. Escreva sempre e qualquer coisa. Depois filtre o que escreveu e verá quanto é possível aproveitar. E leia. Leia muito. Só consegue escrever aquele que lê. A leitura é equivalente à teoria numa profissão. Da mesma forma que um médico precisa conhecer as matérias teóricas para poder ser um bom médico, um escritor precisa conhecer outros autores e outras obras para ser realmente escritor. Claro está que a prática é necessária tanto para o médico como para o escritor", declarou o autor.
O andreense Rafael Colavite, professor de 27 anos de idade, faz parte dos autores que buscam seu espaço e procuram se destacar. Com o terceiro livro publicado neste ano, Rafael acredita que para viver de literatura, o autor deve estar envolvido no meio jornalístico ou das letras, dificilmente ele irá se sustentar apenas com os livros em si.
Rafael explicou também como tem sido sua relação com o mercado literário. "Sempre me perguntam se é difícil escrever um livro. Digo que na verdade não... O Difícil é vender livros no Brasil, o brasileiro compra poucos livros".
Além disso, não são todas as pessoas que topam conhecer um autor novo, elas costumam seguir referências, investir no que lhes parece garantia de satisfação. A opinião do estudante de engenharia Leonardo Mendes, 21 anos, reflete o pensamento de muitos jovens, se for para ler um livro que seja um best-seller."Olha, pra mim já é difícil ler por causa da correria do trabalho e faculdade, antigamente eu nem lia, mas depois de muito incentivo da minha namorada, estou buscando ler mais. Então quando tenho tempo pra ler algo, procuro algum livro que eu sei que é bom e faz sucesso. Pra valer a pena".
O autor Rafael Colavite finalizou a entrevista falando sobre sua postura frente a tendência de consumo dos leitores. "Acredito que não viver de literatura seja uma coisa boa no Brasil. Imagine se algum dia uma obra minha fizer sucesso: Vou ficar tentado em repetir a fórmula? Vou continuar a escrever o que quero, e como quero, e admitir que a crítica possa ser negativa? Atrair os holofotes pode não ser uma boa ideia se desejo escrever por prazer, como faço. Prefiro ser um dia reconhecido, do que ser famoso amanhã".
Segundo pesquisa do IBOPE o número de leitores cresceu seis pontos percentuais nos últimos anos, um dado que traz esperança para os novos autores